sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Como o dilema da falta de inspiração se relaciona com a arte corporal

     Passei o dia todo a querer escrever. Quis escrever, tinha inspiração para dar e vender, mas não me surgia assunto nenhum que me fizesse pensar que era aquilo que eu queria dizer ao mundo.
    Acontece que há poucos minutos atrás, pus-me a pensar nos acontecimentos desta semana, de uma maneira geral, como quem pensa que o tempo está a avançar demasiado depressa, e surgiu-me o assunto que estava a tentar lutar para sobressair no meio de tantos pensamentos.
    Há cerca de dois dias atrás, em conversa com algumas colegas de turma num dos nossos intervalos, uma delas diz-me, por outras palavras das quais não me recordo, que eu estava a pegar bichinho das tatuagens à turma - não a cada aluna, mas a algumas, vá.
    No momento em que ouvi tal afirmação, a minha reacção foi desatar às gargalhadas e continuar com a conversa - não me dei ao trabalho de pensar no significado que poderia ter retirado dali, mas sabia que aquilo não era uma afirmação de conotação negativa. Era uma afirmação, ponto.
    Engraçado como foi preciso pouco mais de quarenta e oito horas para poder relembrar esse momento e pensar bem no assunto.
    E agora que penso bem no assunto... Bem, podia ter dado uma resposta bastante boa - não boa do género de ser uma resposta convencida e egocêntrica, mas sem lógica e com sentido de existir.
    Uma pessoa como eu pode muito bem pegar o bichinho das tatuagens a alguém. Deus sabe que adoro falar nas minhas próprias tatuagens e com bastante orgulho nelas, e que já peguei o bichinho a várias pessoas, tal como me pegaram a mim própria.
    Mas o acto de se fazer uma tatuagem na própria pele parte da decisão da pessoa que a possui, tal como a decisão sobre a cor da tinta, o desenho, o tamanho, o sítio, ou até mesmo a quem contar ou a quem pedir conselhos. Porque no final do dia, ninguém é obrigado a fazer nada.
    Eu nunca direi a ninguém «faz isto que serás mais fixe»; é das coisas mais erradas de se fazer a alguém. Eu falo sobre o assunto. Respondo às perguntas que me fazem sobre as minhas experiências. E é só: eu digo aquilo que me compete dizer consoante o que pedem de mim, mas deixo que as pessoas tomem as suas decisões quanto a isso.
    Ninguém me disse que desenho tatuar ou onde. Já me disseram para não o fazer, como já seria de esperar, mas à semelhança de não se dizer a alguém que faça tal porque acontece tal, eu também não acartei qualquer outra opinião que não fosse a minha, visto que a pele é minha, o dinheiro saiu do meu bolso e as dores foram exteriorizadas pelo meu suor, nervos e até mesmo sangue - mas só numa das ocasiões.
     O corpo é de cada um, e cada um não se deve sujeitar a outrém.
    E há mais: nunca, mas mesmo nunca se deve fazer uma tatuagem sem significado. Há pessoas que o fazem, não me cabe a mim julgá-las, e continuo a ter o mesmo respeito de sempre por elas. Apenas acho que não seria capaz de fazer algo só pelo vício da arte corporal. Todas as minhas tatuagens têm um significado único, e não desgosto de uma em prol de outra.
    Apenas... Pensem bem. E coloquem os vossos direitos, vontade, dignidade, orgulho, chamem-lhe o que quiserem, acima de tudo. Porque acima de tudo, não há mais ninguém que viva a vossa via ou que sinta o que vocês sentem, física ou mentalmente, correcto?

Sem comentários:

Enviar um comentário