Hoje não quero saber das coisas tristes. Hoje não quero saber das zangas, das revoltas, das notícias más e trágicas, das repreensões, das chatices, das respostas mal dadas, das atracções não correspondidas, dos maus efeitos do tabaco, das lágrimas que derramei, nada. Hoje não quero saber de nada disso.
Desde a noite passada que estou a ter bons momentos, raramente interrompidos por outros menos bons. O humor geral é mais que bom, mais que óptimo, é excelente. Ando feliz, por nenhuma razão em especial.
Amo-me. Sinto-me bem comigo própria e com o mundo, apesar das merdas que ocasionalmente me rodeiam. Enquanto me sentir assim, nada me vai mandar abaixo. Nada. E eu não podia sorrir mais e melhor.
Desde há algumas horas que ando a ouvir uma das músicas que mais me marcou, mas pela positiva. Uma música do meu passado, de um passado não de há muitos anos, um passado feliz, com bons momentos — talvez com uma má consequência, mas que se dane, estou feliz, adoro recordar esta época.
Recordei esta tarde que em Dezembro passado, fez seis anos — seis anos é muito tempo, parecendo que não é nada — que conheci uma das minhas melhores épocas, alguns dos melhores amigos que tive, com quem hoje ainda mantenho uma excelente amizade com um deles. Perdi o contacto com os outros dois, mas tenho a certeza que, se nos víssemos hoje, nada teria mudado, apenas o tempo teria passado por nós.
Diverti-me como se não houvesse um amanhã. Fiz besteiras impensáveis, e não me arrependo. Em dias de escola, saí com eles três até às tantas da madrugada pela grande Lisboa e pelos seus arredores. Nunca me ri tanto, nunca conversei tanto como com aqueles três sujeitos, e não podia estar mais feliz ao recordar as coisas que todos fazíamos. Coisas de gente nada graúda, mas nem isso nos impedia de sermos quem éramos, nem nos impediu de sermos quem somos hoje como individuais.
Recordo-me de irmos ao centro comercial todas as tardes, só por irmos para lá e estarmos o dia todo à conversa, à beira do rio. Recordo-me de passarmos madrugadas inteiras, seguidas, nos mesmos sítios, sempre à conversa também. Recordo-me do medo que tive em passar por certos sítios à noite. Recordo-me de quando me faziam coisas que só me faziam rir, como por exemplo, tirarmos fotografias em que dava a entender que eu era uma corda, e alguém iria saltar à corda. Hilariante.
E eu não podia estar mais feliz por ter conhecido tais pessoas. Estiveram presentes numa das alturas mais difíceis da minha existência, e apoiaram-me sempre. A minha própria mãe obrigava-me a sair de casa, a sair com eles, para que eu me distraísse, e sempre resultou.
Amo-os. Não há como negar, aqueles três rapazes, de certa forma, salvaram-me a vida, cada um à sua maneira. Todos como irmãos protectores, querendo defender a irmã mais nova de quem a magoava, querendo fazer rir a irmã mais nova quando lhe apetecia chorar, querendo que ela aprendesse que os dramas da vida passavam, e que se os momentos bons eram efémeros, os maus também eram.
Sinto-me prestes a rebentar de felicidade a cada memória que me surge à cabeça, apetece-me rir a plenos pulmões e não posso, mas não faz mal, a emoção é tão grande que é avassaladora, preenche-me o coração, aquece-me.
Continuo a ouvir a mesma nossa música, a música mais feliz que alguma vez ouvi, que mais nos caracteriza, e que, no entanto, nada tem a ver connosco, com o nosso grupo. E mesmo não tendo nada a ver com o nosso grupo esquecido, tem tudo a ver com ele também.
Fala de alguém que perdeu o melhor amigo para a morte, e em como tem saudades dele, que nunca encontrará alguém como ele. E eu compreendo a música, e dou graças por não ter perdido nenhum destes sujeitos para a morte.
Nenhum deles está perdido. Sei melhor como está um do que os outros dois, mas não faz mal, vou sabendo que estão bem, vou tendo novidades indirectas de tempos em tempos, e isso basta-me.
Tenho imensas saudades de todas as horas que passávamos juntos, das parvoíces, das fotografias, dos escândalos, das músicas cantadas naquela carrinha velha e cinzenta, das conversas, das aprendizagens que tive, do carinho fraternal que me mostravam, de quando gozávamos uns com os outros, de tudo. Nunca irei conhecer mais ninguém como aquelas pessoas, e eu só espero um dia voltar a repetir tudo o que fizemos mais uma vez, pelo menos.
Estou feliz. São seis anos, seis anos em que repito as memórias de meses na minha cabeça, e que me fazem rir. Ainda bem que continuo a falar regularmente com um deles, senão, dava em doida. Serão sempre meus irmãos, apenas estão distantes.
Amo-os.
I won't forget you, and I'll keep loving you, but it's hard to live my life when you are not around. I'll try to make it through, I know you want me to, but it's hard to think of you whithout me breaking down... — Shifty, A Better Place (http://www.youtube.com/watch?v=dWLesx7JYjs)
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